abaixo a poesia. Viva a Vida.
ORIENTAIS, ESTAMOS AO ORIENTE DO ORIENTE.
OCIDENTAIS, ESTAMOS AO OCIDENTE DO OCIDENTE.
SOMOS NÓS O ORIENTE DO ORIENTE,
SOMOS NÓS O OCIDENTE DO OCIDENTE,

Nada de vós poderá nos guiar.

Diziam os profetas antigos, repetem os contemporâneos e os medievais: “Poetas, poetas! Cantar o mar é ser poeta, viver é ser marinheiro.”. Agora, poetas, poetas, vedes: marinheiros sois.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

pague e leve.

venha o vento, venha o mar. é tão bom sentir alguém devorar os meus limites. devora-me! cala a minha voz. silencia os meus sonhos como se não houvesse nada maior do que tu. é bom amar mergulhando na estreiteza, na pequenez desse amor humano. é bom entregar-me pra isso como isso fosse o meu (, o nosso?,) tamanho.
obviamente o limite explode quando se desajusta a imensidão numa certa noção de estreitamento. nesse caso, a morte é imprescindível. morre-se por que a fé definha ao primeiro titubeio da perfeição. morremos. e suposta, a perfeição titubeia por que se presume forma perfeita. e digo: não exista. perfeição é uma direção, um sentido. a forma é consequência. assim, todas as formas são perfeitas desde que concebidas na direção que as une às expectativas correspondentes. ultrapassemos as expectativas e sejamos perfeitas para além delas. invertemos a ordem, quem vem primeiro é o que ultrapassa as expectativas. as expectativas do mundo seguem-nos. elas vem depois. eis: a perfeição.
ora, que se não for eterno, se não for perfeito, será apenas: apenas. ainda que ser apenas seja o máximo do melhor possível. os teus gestos tremem.
amar é definitivamente ter nada. ausência absoluta de posse. por que a vida é assim, não se tem a vida como propriedade, ainda que uns exerçam certo controle sobre outros num jogo banalizável.
é-me permitido possuir. não me é permitido é ser possuída. como são coisas interdependentes, excluo a posse que não me pertence.
tendo nada, amar é definitivamente ter tudo. apropriar-se de tudo quase como se o eu não existisse diluído em todas as suas partes.
totalizada. nesse momento vem a vida em êxtase. mesmo que sua humanidade tenha um certo prazer pela miséria, pela fraqueza. voltam olhos aos rastejantes que representam sua própria miséria, pautando a falácia da distância entre estes e aqueles. os primeiros não são tão ruins, por que os outros são ainda piores. e se orgulham dos perfumes das economias dos laboratórios piratas de biotecnologia.
perfumes hipócritas no cangote da namorada apaixonada. que vai sofrer quando descobrir que não tem perfume, não tem paixão, não tem nada. amar é não ter nada. mas a felicidade dos que acreditam na sede é beber água. ela bebe, ele bebe, até o instante seguinte. necessidades são cíclicas. exaltadas, são permanentes.
ainda assim, nesse momento, vem a vida em êxtase. por que o êxtase é maior que a vida. em todos os momentos vem a vida em êxtase, ainda que teus olhos não vejam, a pele não sinta, a boca não confirme, os ouvidos não ouçam e o sexo não viva.
em todos os momentos a vida vem em êxtase!
essa vida em êxtase escolhi velejar. bons vinhos sul-americanos e sul-africanos, bons perfumes amazônicos, bons alimentos orgânicos, bela paisagem da Terra sem Mal, do Lago de Leite.
Profecias indígenas em minhas tranças rastafari e luzes nos cabelos castanhos.
Brincos de cristais, óculos da moda, escolhidos pelo balconista que sabe mais disso do que eu. roupas apresentáveis de algodão cru e milho guerreiro. surfo sobre as ondas do alvoroço de natal e ano novo. não mergulho nesse angú-de-caroço. divirto-me com a felicidade e com a decepção que assisto. fazer o quê?
navegar é preciso, não é preciso viver.
não tenho televisão e a internet já tem regurgitado tanta comida podre que essa gente engole!
respiremos. voltemos à antropologia. não como categoria, mas como amor e diversão.
velejo e escrevo. a vida é um êxtase e isso tem seu preço: pague e leve.
pago o amor perfeito-eterno com antropologia e música.
a poesia não me pertence. sou eu a própria poesia.
mais atenção ao que lhe desafia.
a negligência é imperdoável na física do mundo material.
respiremos, voltemos à antropologia. não como categoria, mas como amor e diversão.

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